Se eu te perguntasse o que é felicidade no trabalho, o que você responderia? Esse tema tem ganhado destaque nos debates sobre gestão de pessoas, propósito e satisfação pessoal.
E não é para menos. Já se foi o tempo em que dividíamos as pessoas em compartimentos como vida pessoal, profissional, familiar, etc.
Você há de concordar que tudo isso é igualmente importante para a nossa felicidade e bem-estar, não é? E tem mais: a qualidade de vida está diretamente ligada à nossa produtividade.
Um estudo realizado pela Universidade de Havard deixou isso ainda mais claro. A pesquisa identificou que um colaborador feliz é, em média, 31% mais produtivo, três vezes mais criativo e vende 37% a mais em comparação com outros.
Para falar mais sobre esse assunto tão importante, convidamos a Especialista em Felicidade Corporativa e Fundadora da Reconnect | Happiness at Work, Renata Rivetti. A Reconnect é uma empresa especializada em liderança positiva e felicidade no trabalho.
Confira a entrevista!
O que é felicidade no trabalho e qual a sua importância?
Renata: Antes de mais nada, é importante desmistificar o tema da felicidade corporativa. Felicidade no trabalho é como as pessoas se sentem. É deixar as pessoas serem quem são. Não adianta acharmos que faremos os colaboradores felizes somente com o aumento de seus salários, bônus e benefícios.
As pessoas são felizes no trabalho quando elas tem um trabalho significativo e desafiador e quando se sentem empoderadas, valorizadas, reconhecidas e têm relações positivas.
Um ambiente legal, colorido, programas de bem-estar, festas, brindes e um kit de onboarding são ótimos, mas são fatores que geram satisfação e não felicidade. Sem eles as pessoas reclamarão, mas somente tê-los não garante a felicidade.
É preciso focar no trabalho da pessoa e nas relações da empresa. São esses dois fatores que atuam na felicidade corporativa.
Entendendo isso, fica claro que quando as pessoas gostam do que elas fazem e tem boas relações elas terão sucesso em todos os resultados: aumento de vendas, produtividade, maior inovação e entre outros.
Por que o tema “felicidade no ambiente de trabalho” ainda é pouco debatido?
Renata: Acredito que pelo mercado não compreender o que é felicidade no trabalho e a profundidade do tema e também por acharem que estamos falando de algo superficial e ilusório.
A maioria das empresas ainda associa o conceito de felicidade com festas e benefícios. E por isso, há pouco engajamento da liderança para discutir e priorizar o tema.
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Como a Reconnect surgiu?
Renata: Sempre fui idealista e queria transformar o mundo. Trabalhava com marketing, mas sabia que meu propósito tinha mais a ver com ajudar pessoas.
E nesta busca de autoconhecimento descobri a psicologia positiva e a ciência da felicidade e bem-estar e me aprofundei no tema.
Aos poucos, fui entendendo que na Europa já existiam empresas que levavam esse tipo de conteúdo para outras organizações.
Assim, busquei um parceiro internacional para trazer o conteúdo ao Brasil e fundei a Reconnect com o propósito de criar ambientes mais felizes, saudáveis e com significado. Hoje atuamos com educação corporativa e consultoria no tema da felicidade corporativa e liderança positiva.
Confira a palestra da Renata Rivetti sobre o assunto no TEDx 👇
A Reconnect fala muito sobre liderança positiva. Explica um pouco sobre esse conceito e como ele pode ser aplicado.
Renata: O líder positivo desenvolve o melhor de cada pessoa, ajudando-as a maximizar as vantagens das suas forças e inspirá-las a lutar pela excelência.
Líderes positivos envolvem as pessoas enfatizando aquilo que as destaca, aquilo que fazem bem, inspirando-as a entregar melhores resultados.
É preciso trabalhar na conscientização dos líderes para que entendam a relevância de seu papel no desenvolvimento de pessoas e não somente na obtenção de resultados.
Como fazer a felicidade no trabalho se tornar parte da cultura da empresa?
Renata: Praticando. Certamente, o primeiro passo é a conscientização. É preciso trazer dados, cases, estudos e apresentá-los a todos, para que possam se engajar nesta transformação, entendendo que essa cultura positiva é uma grande realização para todos.
Como você avalia o panorama da saúde e felicidade dos ambientes de trabalho no Brasil?
Renata: Ainda estamos começando a ter resultados do tema. Mas já vejo muitas empresas entendendo a importância e começando projetos de conscientização e disseminação de ferramentas práticas entre líderes e colaboradores.
Como medir a felicidade no trabalho? 5 Dicas práticas
Não basta apenas saber o que é felicidade no trabalho e a sua importância, é preciso colocar em prática na sua empresa.
Confira algumas dicas “mão na massa” para mensurar como está o nível de felicidade dos seus colaboradores:
- Aplique pesquisas de clima organizacional;
- Faça pesquisas de satisfação com os funcionários;
- Realize pesquisas de engajamento;
- Peça para que os líderes solicitem feedbacks aos liderados;
- Incentive a realização de reuniões one on one.
E quando o ambiente de trabalho é a nossa própria casa, o que fazer para ter mais felicidade?
Renata: Como falei, a felicidade no trabalho tem mais a ver com o que faço e com as relações que temos com nossos pares, gestores e time. Mas, alguns pontos importantes para cuidarmos da nossa felicidade é equilibrarmos os 5 pilares do método PERMA, de Martin Seligman, pai da psicologia positiva.
Esse modelo mensura o nosso bem-estar subjetivo e nos apresenta um caminho de quais são as atividades intencionais que nos trazem uma vida mais plena e realizada. São eles:
- emoções positivas;
- engajamento;
- relações positivas;
- significado;
- e realizações.
Na prática, é importante termos pausas entre as reuniões, separarmos momentos de lazer, entendermos que a qualidade das relações é muito importante, que não somos multitarefas e entre outros aspectos.
Certamente a felicidade vem de escolhas diárias, de uma construção.
Que dicas você daria para líderes e gestores que desejam tornar seus ambientes de trabalho mais felizes e saudáveis?
Renata: Como falamos, para trabalhar a felicidade corporativa é necessário que as pessoas gostem do que fazem, se sintam realizadas, desafiadas e com propósito, além disso, se sintam valorizadas, reconhecidas e tenham um ambiente com segurança psicológica para poderem se expressar de forma autêntica e sem medo.
Algumas práticas de felicidade corporativa são:
Descobrir nossos pontos fortes
O primeiro ponto para que as pessoas gostem do que fazem é entenderem dois aspectos: o que as desafia e elas fazem bem e o que elas amam fazer.
Redesenhar nosso trabalho (Job Crafting)
Podemos redesenhar nossas atividades e nossas relações usando nossas forças. Dessa forma, podemos mudar o significado do nosso trabalho e atuarmos com um sentimento maior de realização e propósito.
Celebrar mais as conquistas
Precisamos celebrar as pequenas conquistas e realizações sempre e não somente no final do ano. É preciso ter pequenas metas e objetivos para nos motivarmos, nos desafiarmos e nos sentirmos realizados.
Desenvolvimento e treinamentos
As pessoas precisam sentir que estão se desenvolvendo, aprendendo e evoluindo. Isso traz o senso de realização.
Reconhecimento e valorização
É importante reconhecermos e valorizarmos as pessoas com mais frequência e permanência. Os colaboradores são muito cobrados pelos resultados, porém, na hora do reconhecimento acaba não acontecendo no dia a dia. Há várias intervenções de Gratidão na Psicologia Positiva que podem ser aplicadas nas empresas.
Segurança Psicológica
Práticas diárias por parte da liderança faz com que a empresa consiga criar um ambiente seguro para as pessoas se expressarem sem medo.
Empatia, flexibilidade e autonomia
É preciso conciliar vida profissional e pessoal. Neste mundo em que vivemos com tantos desafios pessoais, o trabalho pode ser um local seguro em que me sinto acolhido. Precisamos ser mais empáticos uns com os outros.
Concluindo: a felicidade no Trabalho só depende da nossa ação
Como você pode ver, as práticas de felicidade corporativa são simples e, muitas vezes, gratuitas. O que precisamos ter é de conscientização para a importância do tema e treinamentos para capacitar, principalmente a liderança, em práticas efetivas e necessárias.