Foi-se o tempo em que pagar o salário em dia e manter o cliente satisfeito eram suficientes para fazer um negócio crescer. Empresas que entendem o que é EVP são aquelas que fazem seu colaborador ter conexão com a organização e se sentir valorizado como pessoa e profissional.
É preciso olhar para dentro, para a cultura organizacional e em como seu colaborador se sente fazendo parte da sua empresa.
O que é EVP e como construir uma?
Em português, EVP (Employee Value Proposition) quer dizer “proposta de valor para o empregado/colaborador”. Trata-se do conjunto de ações criadas por parte da organização com o intuito de aumentar a satisfação do colaborador e valorizá-lo por quem ele é e pelo que faz.
Para criar uma proposta de valor é preciso ter a jornada do colaborador bem estruturada. Ou seja, a empresa precisa oferecer valor do momento em que as vagas são divulgadas até a relação pós-desligamento.
EVP é como você atrai e retém seus talentos. E a partir das ações de EVP, as pessoas entendem o porquê devem trabalhar na sua empresa ao invés de escolher os concorrentes.
Para aprofundar os insights sobre esse tema tão importante, convidamos Genesson Honorato, especialista em Employer Branding, HR Innovation, Diversidade e Equidade no ambiente de trabalho. Atualmente ele atua neste segmento na OLX Brasil e dá palestras sobre inovação e futuro do trabalho.
Confira a entrevista 👇
Como você define EVP e qual a sua importância?
Genesson: “Eu tenho proposto uma evolução desse conceito, trocando o employee (empregado) por people (pessoa). Assim, olhamos as pessoas na sua totalidade, de maneira mais holística. É aquela máxima de “você não é o seu trabalho”.
Já que é uma proposta de valor que vem de dentro da organização, não podemos deixar de olhar para a pessoa tendo em vista todas as vivências que ela teve e tem.
Somos pais, mães, filhos, primos, amigos. Então, tudo isso se desdobra em diversos outros aspectos que devem ser incorporados como EVP. Isso é de suma importância, pois é assim que vamos basear tudo: remuneração, pacotes de benefícios, a experiência que você vai criar, a cultura da empresa e um senso de pertencimento.
Como diria o Simon Sinek: “tudo começa com um porquê”. Quando a empresa não define bem a sua cultura e o propósito da sua existência ela não tem direção e nem pode, de fato, valorizar seus colaboradores.
Tem uma música que diz “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”. Aqui cabe um paralelo com o trabalho, pois, a gente não quer só trabalho, a gente quer ser feliz e transformar a sociedade.
Como as empresas podem engajar seus colaboradores através dessa proposta?
Genesson: “Primeiro, é importante dividir essa proposta de valor e começar a entender onde ela se conecta, com quem ela se conecta e em qual momento da vida das pessoas ela se conecta.
Eu posso afirmar que o maior desafio do engajamento de pessoas colaboradoras é o senso de comunidade. Uma organização (ou organismo) subsiste dentro de um ecossistema social, então, precisamos olhar para: rituais palpáveis e intangíveis.
No caso dos palpáveis: quais os elementos e rituais práticos que podemos oferecer para as pessoas? Talvez celebrar mais momentos importantes para a organização e que criem esse senso de pertencimento como dia da fundação da empresa, comemorar marcos importantes, oferecer as melhores condições para que elas desempenhem suas tarefas.
No caso dos intangíveis: entender onde e em qual momento da vida das pessoas a empresa pode gerar uma conexão.
Ou seja, não adianta ter apenas uma frase inspiradora e extensa na parede, as pessoas querem algo tangível, querem poder aplicar aquilo em suas vidas diariamente.”
Quais são as características de uma empresa que valoriza seus colaboradores?
Genesson: “Eu olho para aspectos como saúde, bem-estar e felicidade no trabalho. E essas características se manifestam para além da remuneração. Por muito tempo, as organizações olharam para a remuneração como um aspecto central, mas hoje as coisas são muito maiores do que isso.
Embora eu saiba que isso não se encaixa em todos os negócios e que a evolução é um processo individual e gradativo, as empresas precisam olhar para as pessoas, suas jornadas de trabalho, as licenças parentais – olhar para elas como pessoas de fato.
O ponto central é uma frase que usei em uma das últimas palestras que fiz “é justo que todos os esforços visem o lucro, desde que todos os lucros visem as pessoas.”
Como você decidiu trabalhar e se especializar na área de employer branding?
Genesson: “Posso dizer que foi por acaso. Eu trabalhava na Loreal e peguei essa função interinamente enquanto a pessoa responsável estava de férias. Nesta época, não se falava muito sobre LinkedIn e as demais redes sociais, mas eu já estava olhando para isso com uma perspectiva de trabalho.
Depois de um tempo, passei para áreas de marketing e trabalhei para agências na área de branding, com inovação e design de serviço. Depois do acaso, isso virou parte de mim, hoje, mais que estudar, não consigo dissociar Genesson Honorato do Employer Branding. São 10 anos dessa jornada.”
O lema da OLX Brasil é “um time que experimenta, aprende e inova”. Como vocês têm feito isso na prática?
Genesson: “Esse é um dos valores da OLX Brasil, mas também nos guiamos por outros como “é tudo sobre gente” que explica a importância das pessoas nos negócios e “movidos resultados e guiados por dados” que nos lembra a necessidade de basear o que fazemos em fatos.
Na prática, tudo isso é sobre inovação. Dando um spoiler pra vocês: dentro do time de gente da OLX Brasil estamos montando uma área chamada “HR Innovation” para pensar no futuro do trabalho e criar soluções que acompanhem as constantes mudanças. É preciso pensar nas inovações e no futuro, hoje. Precisamos estar preparados.”
Como você enxerga o futuro do trabalho? O que os profissionais de RH precisam saber sobre o assunto?
Genesson: “Entendo que esse é o momento mais importante para se trabalhar com pessoas, pois estamos vivendo muitas transformações. Não só relacionadas aos aspectos técnicos, mas ao contexto de mundo; guerras, inflação alta, fome… – ou seja, mudanças gerais na forma não só de viver, mas também de existir, conviver e obviamente, de trabalhar.
O futuro do trabalho é esse: olhar todos os aspectos que envolvem a vida das pessoas. Enquanto estamos conversando para essa entrevista, por exemplo, meu filho está aqui, ao meu lado – isso é o futuro do trabalho.
Hoje em dia, as pessoas não buscam apenas se tornar diretoras e executivas, elas querem ser felizes, crescer, ter qualidade de vida – o profissional de RH do futuro precisa levar todos esses aspectos em consideração e olhar, principalmente, para os fatores humanos, os soft skills”
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Qual a responsabilidade da liderança quando o assunto é diversidade e inclusão no ambiente de trabalho?
Genesson: “A liderança é uma peça fundamental no ambiente de trabalho. É ela que olha os resultados, o alcance de metas, a performance e aspectos como acolhimento, segurança psicológica e a transformação cultural da empresa.
Quanto mais alta a liderança, maior é a sua responsabilidade sobre inclusão e diversidade no ambiente de trabalho, porque é ela que direciona a organização. É ela que transfere os ideais para os times. É a liderança que deve perceber se há mulheres negras naquela empresa. Ou seja, a responsabilidade da liderança é central, afinal, quem dá a palavra final no processo seletivo definindo quem vai entrar no time?
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Ofereça dicas práticas para líderes e gestores que desejam transformar ambientes de trabalho através do EVP.
Genesson: “Coragem. Essa é a dica prática. Coragem para não ter medo de não ter todas as respostas. Coragem de se calar e escutar quando for preciso. Coragem de lidar com suas próprias frustrações, acolher e transformar o ambiente à sua volta. Coragem de recuar e pedir desculpas. Coragem de ser antirracista, antimachista, etc.
Porque, estando isso em dia, você constrói a jornada – remunera melhor, revê os benefícios e cria algo genuíno, aliás, costumamos dizer que não existe fórmula mágica, mas talvez tenhamos ingredientes, e coragem pode ser um deles.
Bom, é comprovado que pessoas mais felizes produzem mais, geram mais valor, têm mais ideias e colaboram mais com o negócio. Então, no final do dia, é isso que vale. E tudo isso tem a ver com coragem.”